Filho da Lua
Ela estava lá, bem
distante de casa, sentada embaixo daquela grande árvore sinistra, o seu pulso
pedindo um basta, um final, com o olhar triste e cabisbaixo, uma tamanha
solidão em meio aos devaneios sofridos, sua visagem como a melhor companhia
naquele instante.
A dor não doía tanto
e nunca conseguira entender a sensação tão intensa nestes anos todos, a lástima
de uma paixão avassaladora que corrói na veia sem nunca ter amado, que desgasta
os sorrisos poucos e falsos ao mundo, a puberdade chegara e as dúvidas eram
muitas, sensações intermináveis, como o começo de um parto natural. Não, ela
não é uma jovem tristonha e carente de amor, as lamúrias são canções que ela
mesma criou no seu obscuro prazer. A grande árvore já não tem folhas nem
flores, somente galhos secos e fracos.
A belatriz aguarda a
noite cair no seu corpo pálido e virgem, o soprar do vento forte do cair da
tarde, o sereno misterioso, o frio manso e calmoso. É assim que ela aguarda a
chegada da lua no céu escuro, hoje ela será cheia e brilhante. É assim mesmo
que ela renasce, a moça ganha mais poder para continuar aqui, neste globo que
chamam de Terra, este imenso espelho, seu pavor. A noite chega feito um cavalo,
calopando no seu passo ordinário em direção daquela árvore seca e velha. E o
ato de ligação sucumbe e não há como ceder aos esforços, morrer é necessário.
Esta volúpia extrema,
apenas uma noite do ano se faz necessária assim, sem dor, copular ao sangue de
uma besta humana. A noite penumbral rouba um pouco de vida e ali mesmo naquele
campo que divide o tempo e o medo, nasce mais um órfão de pai, fora cuspido do
espelho pela lua maldita, os lobos uivam celebrando... Miriam agora é apenas um
zumbi, filha do demônio plantado na grande árvore e do seu ventre saíra o filho
da lua.
Ela já não é mais uma
simples virgem, seu pecado agora está latente e a morte se encontrará com ela
novamente próximo ano. O dia amanhece, a árvore seca e velha continua erguida
sob a luz do sol delicado. O menino chora, o cesto fora colocado no limiar da
casa da velha, a anciã do vilarejo macabro, a morte caduca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário