Ela e Eu
É ela que me torna menina, tão travessa e muitas vezes
imensamente cruel. E ela me revela como as flores amarelas que caem no outono e
nas noites frias parece me beijar a nuca. E mesmo sendo sufocante em muitos
dias quentes do verão, ela me torna meiga e me torna incrivelmente branda e
maléfica em tempestades passageiras.
E mesmo ela sendo tão boa comigo, sinto que a prendo em
meu calabouço de mentiras, meu delicioso calabouço e suas paredes úmidas,
dando-lhe um tom mais grotesco e pavoroso. E meu desejo é tê-la em minha mente
eternamente, tê-la por dentro de mim, me consumindo e me fazendo lembrar do
amor.
Ah amor! Perdoe se eu te esqueço, se eu te tenho tão
perdido dentro de mim, estou desorganizada e atraída por um outro lado, um
caminho que seu que não me pertence. Sou tola bem sei, como se tivesse morrendo
algo dentro de mim, feito algas que se agarram nas rochas da praia. E aos poucos
sei que consigo me entender, me achar ou me perder de algum modo, de algum
jeito torto. E mesmo torta nesta solidão que me aflige, esta solidão desmedida
e ordinária, sou feliz. Feliz! Porque meu coração é acorrentado por ela,
vagarosamente pulsa meu pulso cansado... E ouço um chocalho sinistro em minhas
madrugadas frias.
E continuo sendo uma menina doce, mesmo com este nó que
me dói a garganta. Porque Ela é meu poço raso, meu trilhar mais curto e minha
cachaça mais pura. Ela estranhamente me embala em seus braços cintilados e me
nina com suas canções de letras em outro linguajar. E ela nasce todas as manhãs
junto comigo, me acalentando... Ela tão obscena e eu tão virgem.
Virgem feito papel que rabisco todos os dias. Ela é meu
mundo, e giramos freneticamente por aí, redescobrindo coloridos diversos mundo
afora. Mesmo sangrando, mesmo chorando, mesmo nos escondendo da morte, mesmo
tentando voar sem asas e falar sem língua. Somos o que somos e nada muda isto.
Ela está em mim, e sinto que aos poucos sou mais Ela que eu mesma.
Ela me mostra o que realmente é o amor, e assim
consigo dormir, pouco tempo... E tento sorrir pra guerra que estoura lá fora. E
é cortante as farpas que circulam no paraíso.
Bebo insônia e canto versos de amor... Ela me ensina amar
e amando vou me tornando cada vez mais Ela.
Ela, a POESIA que me domina.
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